
Do Ideal Adulto ao Adulto Ideal
Migração possível?
Migração possível?
CARO LEITOR, QUE BOM VOCÊ ABRIU ESTE BLOG: meu convite ao raciocínio desta vez diz respeito à separação. Não falo tão somente da separação a que estamos acostumadíssimos ouvir: separação de casais, não.
Hoje, trata-se de uma separação mais densa, mais significativa. Que talvez, bem executada, até possibilite evitar as tais separações matrimoniais no futuro.
É sabido do quanto um bebê recém nascido carece dos cuidados maternos, sobretudo nos primeiros meses. Neste momento, o bebê não sabe diferenciar a si próprio de sua mãe. Para ele é tudo uma coisa só. Como se a mãe fosse uma extensão sua.
Este momento, chamado de fusão, tanto mãe como bebê, têm suas condições de fusionar. Se a mãe, por exemplo, estiver impedida (por uma questão de saúde, depressão, desinvestimento em relação ao bebê), aí então teremos alguns efeitos “colaterais” no bebê e que podem ocasionar, por exemplo, o comprometimento de sua aquisição de autonomia para a vida.
No processo dito normal, aos poucos o bebê vai percebendo que ele e a mãe não são uma coisa só, e mais, percebe também que há outros para além desta relação dual. É um
perceber-se Sujeito diante do Objeto; claro, uma concepção muito primária ainda, pois crianças , sobretudo bebês, não têm capacidade de elaboração rebuscada.
A entrada do “intruso” (terceiro) é muito produtiva. Este terceiro pode ser o pai ou qualquer outro que não ele; isto é, todo aquele que interfere na fusão estabelecida na relação dual.
Acontece que esta fusão (necessária) precisa ser desfusionada (necessariamente).
A primeira frustração de uma série... a entrada do terceiro na relação dual, o desmame, o engatinhar, a aquisição da linguagem...e assim, a medida em que a criança vai se descolando da mãe, vai tomando posse de si; sua autonomia e sua personalidade vão se configurando de forma mais aproximada do ideal e do saudável.
Filhos não são “objetos” dos pais, nem estes detém a “posse” daqueles.
Acontece, porém, de que quando não se observa este tipo de descolamento, há a tendência dos pais acharem ser os “donos” de seus filhos de maneira perene, e estes por sua vez, não saberem caminhar na vida (por medo, por insegurança, por acomodação – tem quem faça por eles – por não acreditarem em si mesmos, por não conseguirem enxergar seus próprios valores, e por aí vai). O pior, estes “valores” também crescem e se cristalizam.
Perceptível é, com o perdão da palavra, a falta de respeito de alguns pais com relação a seus filhos. Cada criança é um ser com inúmeras potencialidades, muitas vezes despercebidas, desperdiçadas ou não estimuladas por seus pais. Cada criança é singular, um ser único.
Ter autoridade sobre os filhos não é emburrecê-los, invalidá-los, anulá-los, castrá-los em demasia, de modo que se tornem pequenos-grandes (hoje-futuro) idiotas.
Ter autoridade também não é subjugá-los e humilhá-los de modo a “aprimorar” sua (dos pais) própria auto-afirmação... Na verdade, um simulacro de auto-afirmação de quem não a possui verdadeiramente.
Este convite ao raciocínio não é uma apologia à que a criança faça o “que quiser”, não!
Criança, por inexperiência, não se garante em seus atos. Requer cuidados, sabemos disso.
Mas como toda educação e instrução partem dos mais velhos... Bom, deduz-se teoricamente, que deve ser dos mais velhos de quem deve partir a boa ação do respeito e do oferecimento do rico processo de autonomia através dos estímulos aos seus talentos; pois elas os têm... Claro que tem!
Nem mais, nem menos. Nem prendê-las, nem soltá-las de todo. Dosar é o melhor remédio. Educar é saber impor alguns limites também.
Os adultos também devem aprender. E uma das coisas que está à mercê de ser aprendida é deixar que os filhos possam mostrar seus valores; mostrar que de alguma forma souberam aprender e apreender o que lhes foi ensinado. Isto sim é uma prova de amor, confiança e grande aposta neste futuro adulto.
Parece-me assim: antes, na fase de formação, um ideal de adulto, depois um adulto ideal.
Minhas palavras não são de julgamento; São sim, um convite para melhorias.
Ninguém nasce com a idade que tem... Aprendemos sempre!
Até a próxima.
Octávio Marcondes Machado Marchi, graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos – CEP (http://www.centropsicanalise.com.br/), atuando na Rede de Atendimento (Clínica do CEP), Membro da Equipe do Periódico ”#Falo” e com consultórios em São Paulo.
Um comentário:
Adorei seu texto.
Concordo com tudo que você escreveu. Lembrando que o "respeitar nossos filhos" equivale respeitar nossos próprios valores e limites.
Parabéns !!! Beijos.
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