Pensar, hoje, o que significa?
E pensar o hoje?
O que é pensar, o que é o pensar? Há diferença?
Parece que a sutil diferença toma lugar comum, e faz-nos tomar um pelo outro.
Talvez pensar "O pensar" seja algo que possibilite, já, um início de aprofundamento, independentemente daquilo que se pensa. Mais forma do que conteúdo, que, a priori, já é um
bom começo.
Minha intenção hoje é pró-vocar e não conceituar. Na melhor acepção da palavra, viabilizar um chamamento para a questão. Problematizá-la.
As questões que nos são caras ou as que nos preocupam (sobretudo estas) como são entendidas e tratadas por nós?
Intrigante é perceber o "quantum" de investimento psíquico existe nos vícios de pensamento e, com isso, as pessoas não se permitem (nem sabem que podem fazê-lo), à aproximação de sua verdadeira e legítima forma de pensar, gerando angústia e frustração.
Assumem, administram, propagam e repetem, numa recôndita ignorância, aquilo que não é próprio de si. Quantos projetos de vida são forjados de modo a sustentar este engodo!
Como diz o poeta, é "passar pela vida e não viver".
Será mais fácil manter o velho mote, sustentando um comodismo, do que legitimar uma atitude própria, assumindo com isso as apostas e os riscos?
Corre-se o risco, de que as coisas dêem certo, não? Riscos que se tornam conquistas.
Penso na dimensão deste questionamento. Penso na formação intelectual das crianças, na implicação dos adolescentes com a sua própria vida e na possibilidade de um adulto poder e querer mudar. Isto é quebrar o processo vicioso... Este mal herdado.
Onde se perdeu, ao longo do tempo a ascese do diálogo, do questionamento, da reflexão que está no bojo do processo de educar?
Segundo a Psicanálise, a capacidade de questionar tem seu lado saudável; é algo que nos mobiliza. Mas, sermos maquininhas de fazer perguntas a esmo, não.
Tudo deve ter um sentido. O pensar, o falar.
A velha frase do "Penso, logo existo", deve nos lembrar deve nos lembrar que temos algo a fazer para além do existir. Não só pensar fora, mas dentro, e, sobretudo, dar sentido a essa existência.
Talvez, a dificuldade seja o aprender a pensar.
Há de se dizer, que muitas das coisas que passamos tempos a criticar no outro, tem mais a ver como nós entendemos este outro, do que ele ser/ter verdadeiramente aquilo que lhes apontamos como defeito. Antes, me incomoda no outro o que provavelmente reconheço em mim mesmo nele, e não suporto.
Quando nos permitimos reconhecer como foi que entendemos os processos de nossa vida (relações, afetos, sentimentos) aí sim, estamos para o epicentro de um sem número de possibilidades de solução das questões que nos angustiam.
Parece-me poder afirmar que, quando cada um reflete sobre seus próriios atos, se percebe e se permite à mudança, desvanece a avaliação crítica do erro em relação ao outro; sendo a recíproca verdadeira, já que este outro também refletindo, se percebe e se permite à mudança.
Questões pessoais, familiares, conjugais, políticas, religiosas... enfim, quantos benefícios não surgiriam por um simples saber pensar.
Se há segredo, este está em saber que existimos e saber que há possibilidades de sermos melhores a cada dia.
Percebem onde nos leva e o que nos possibilita pensar?
Pois é...então... veja lá pra onde isso te leva!
Boa sorte!
Octávio Marcondes Machado Marchi, graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos - CEP, atuando na Rede de Atendimento e Membro da Equipe do periódico "#Falo" desde 2006. Consultórios na Pompéia e Liberdade.
Texto publicado no Jornal Planeta Águas (Águas de São Pedro) em 29.12.2007
2 comentários:
Tavius.
Concordo plenamente.
Devemos sempre pensar nós colocando no lugar do outro, como se nós fossemos o outro ( na política, no sentimento, etc...),logo deve exister a "lateralidade".
Evitando "pensar" sem julgar.
Parabéns pelo texto.
Beijo.
Corrigindo...
*... nos colocando no lugar do outro...
Beijo
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