OLHA O QUE EU ACHEI!
E Ó COMÉ QUE TÁ!
Octávio Marcondes Machado Marchi
Com (siderações) acerca do percurso de uma psicanálise.
Ocupar um lugar é o que se descobre durante o percurso analítico; aliás, uma das descobertas, pois que, também, ocupar o lugar de arqueólogo do saber é se pôr frente àquilo que não se sabe, é descobrir, no processo investigativo, quantos lugares pode-se ocupar na contra-mão do “lugar algum” que uma neurose neuroticamente se apresenta.
Na poltrona como um neo-psicanalista ou no divã como um veterano psicanalisando – registro minhas in-pertinências – a pertença interna mesmo – que as “pró-vocações” – como chamamento endógeno – acerca da Tese de Doutorado: Do Espírito da Coisa: Um Cálculo de Graça, de Karin de Paula, suscitaram.
A memória de Karl Kraus trazida à tona na circulação do Witz na obra citada, faz-me sorrir respeitosamente frente à proposta da autora de que seu ambicioso trabalho seja, antes, “um Witz” do que “sobre um Witz”, e neste caminho, perceber-me um bom neurótico no entre- meio de psicanalista e psicanalisando é, porque não dizer, sentir na pele não a força da contemplação do Witz, mas de ser Witz no universo constitucional de um percurso até aqui caminhado. Dois em um é possível!
DA MONTAGEM DA EQUA-AÇÃO
Sendo a neurose a grande “Equa” sobre a qual sempre estive montado entendo agora que o grande questionamento “Quem sou” e “O que quero” indicam o devir perene como analisando/analista.
Na mesma inquietação (in-quitação) é deixar de ser “gauche na vida” como disse o ilustre Drummond e isto é deixar de estar no impasse entre o que o mundo dita e o “si” mesmo. Ser gauche é ser exceção à regra como disse um ilustre desconhecido meu.
Manter um diálogo interno entre um eu analisando e um eu analista com transferência e contra-transferência tão próximas, quase tão unas, é realmente ter a “peste” e sua recaída. O galope não cessa, não acaba, nem que se queira.
Descobrir, de fato, não é “desfritar o ovo”. É pôr algo lá – um ser no não-ser.
É saber que ser neurótico é ser normal; é saber também que ser mais neurótico, não necessariamente seja ser mais normal; a não ser à guisa de retórica didática na liberdade poética.
É simplesmente saber!
Saber é um verbo que se precisa querer conjugar.
Alexandre Kojève emociona ao comentar Hegel:
“O homem é consciência-de-si. É consciente de si, consciente de sua realidade e de sua dignidade humanas. É nisso que difere essencialmente do animal, que não ultrapassa o nível do simples sentimento de si. O homem toma consciência de si no momento em que – pela primeira vez – diz: “Eu”. Compreender o homem pela compreensão de sua origem é, portanto, compreender a origem do Eu, revelado pela palavra.
O homem contempla o objeto e é absorvido por este e, sendo assim, o homem só pode voltar a si pela via do desejo e isso o constitui”
Ele, que não é o objeto Se percebe como sujeito quando o objeto se lhe revela; ele é, inclusive, oposto ao objeto.
Por esse viés é possível então saber de si, o negativo (daquilo que o sujeito não é) é o constitutivo ontológico do Sujeito.
Aquilo que o objeto é, que não é o Sujeito, se mostra a este pelo seu desejo de saber quem é.
Parafraseando o poeta “eu não sou eu, nem sou o outro; sou qualquer coisa de intermédio...”. Talvez seja aí que nasça a vertente especulativa, a fórmula da “Equação”; a potranca que ao se tornar “Equa” unida à “Ação” jamais parará de correr.
CONSERVA A CONVERSA
COM SERVA E COM VERSA
O diálogo é contínuo. O sintoma da “peste” é o nunca mais parar e diante da servil humildade intelectual é mister reconhecer que esta possibilita a nova versão de/dos fatos do velho simulacro e aí seja possível então inscrever a palavra “na carne, no corpo”
Entender o sentido do diálogo interno (ante às investigações) e do diálogo externo (ante ao processo do talking cure e, este, ante às intervenções) é ter, de fato, a Coisa no Espírito.
Apostar em um caminhar onde os “aquéns” e os “aléns” são desconhecidos, porém acreditados é, nobremente, calcular a graça; calcular o estado dessa graça no percurso da aposta.
Nesta exumação de verdade enterrada viva é possível fazer um estudo do estado necro-neo (a “morte” que dá/devolve vida). Na apropriação a legitimação e nesta, a autorização para novos desenterrares... Um moto perpétuo; ato paganínico.
É a parte submersa do iceberg que se desvenda. E isso me faz pensar: Cura em psicanálise? Como assim?
O Desejo de saber, para um neurótico tem cura?
Curar não seria a perda grande – um perdão – uma perdona (parafraseando um rabino inteligente) da capacidade investigativa? É um cessamento? É um parar?
Anos de psicanálise conferem uma percepção possível de que as atitudes de negação e resistência frente ao trabalho analítico são apostas de percurso, onde o sintoma do “não ter mais nada a falar” denuncia, por si só, que quem está a falar é esse “mais” alguma coisa e desta vez seria aquilo que compreende o “nada”.
Não ter nada a falar é “dizer” que se quer falar deste “nada”; este elemento nomeado de coisa alguma, mas que preenche um espaço, sacia pela desobrigação. No viés do sintoma, na contra-mão da febre psíquica é possível encontrar placas indicativas da mão certa a tomar.
E dói descobrir a auto-dissimulação; à vergonha a que ela nos imputa.
Não é mesmo uma verdade a dor de saber o que queremos fazer da mentira?
Amputar a verdade, imputar a mentira: Somos todos filhos da putatividade, filhos daquilo que aparenta (ou que queremos aparentar) ser verdadeiro?
Onde está o Start and Go?
O que nos mobiliza? O que nos leva? O que nos mantém no caminho do saber; do querer investigar a investigação do investigável? Cada qual comparece com sua riqueza especular; partindo de seu território firme (?)... Um subjetivo deserto de Real.
É no deserto de Real que vamos construir, edificar!
Será a solidão, não só ela, a “experiência mais cotidiana” só do analista?
Aprendo até com a crítica recebida outro dia que versava sobre o sentido que faz para quem tem a escuta por ofício, dar-se ao “desfrute” de uma meditação... Será isso mesmo? Somos tão ignorantes assim? Tão onipotentes assim de imaginar que aprender e apreender tem limites? Isso é estar na contramão mesmo! Porque se ufanar desta mediocridade?
Então o que será essa tal de “solidão do analista”... ”solidão da poltrona”... “Tragicomédia sentada ou deitada”? Não é aprender e apreender com a meditatio?
O setting é laboratório = Labor et Oratio, na total acepção do termo: local onde ocorre uma ascese, um trabalho em forma de oração como exercício contínuo de uma práxis de renúncia ao prazer que nos confere a malemolência, a resistência, o indeferimento, a denegação.
É. Não há festa no céu mesmo! A boca é grande mesmo e a roupa...ah...a roupa...
Parece ser possível celebrar aqui mesmo com o instrumental que se tem e não com o instrumental que se desejaria ter.
Onde fazer a festa? Claro! Naquele terreno bom e fértil do deserto de Real!
Dá para se fazer muitas coisas; construir muitas coisas.
Dá, inclusive, para usar a boca grande não só para comer, mas, para falar, se possível tudo. Especialmente daquilo que não se sabe.
Ah, e a roupa? Que tal ficar nu? Ficar desnudo é comparece com aquilo que se tem; com o mínimo já apropriado que, neste estado de coisas, pra quem se permite, “não é pouca coisa”.
Pensar O Pensar é se deparar com o valor da angústia. Esta amiga aliada pelo simples fato de que em seu bojo há denúncia; por seu avesso de alguma forma, via sintoma, ela aponta para onde está o nó. Re-vela.
Ao olhá-la (a angústia) não é mais possível fixar-se na retórica superficial do que “ela faz comigo”... Mas sim, perpassar e adentrar ao universo do “que faço com aquilo que ela faz (ou deixo-me fazer) comigo”.
É, as cartas não ficam perdidas! Nenhuma!
Todas as cartas cumprem sua missão que é dar o recado, não importando se bom ou ruim. Dar o recado é a primazia. É via carta que se conta algo ou conta tudo daquilo que não se sabe saber.
Contar é o ato ou efeito do contador... que ironia!
Somos enfim conta-dores das quantas-dores no papel de aposta-dores que se autorizam á conta-minação de seu Kapel-Meister Freud – O cria-dor!
É não menos sem dor que se inscreve a Coisa no Espírito!
Eis o cálculo; mais um cálculo! Eis mesmo o Espírito da Coisa: a Coisa no Espírito.
E frente à hipocrisia de uma retórica tendenciosa, que tenta invalidar o percurso de uma psicanálise, há de se ter muita cara de pau lá no setting; algo sugerido em sonho a mim pela mestra;
Refleti...refleti. “Cara de pau lá...” “Cara de pau lá...” Karin de Paula...ah!!
É isso!
É Isso!
Cara de pau lá... é o enfrentamento da aposta!
Karin de Paula... é a viabilizadora da aposta/conquista.
Assim, o improviso é preciso... Improviso é Preciso!
Como diz Karin, é um improviso calculado, um cálculo que só podemos ler a posteriori.
Nada se esgota - Do tema às digressões, passando pelos embates, encontros, frustrações.
Nem o “nada” se esgota. Aliás, ele é o manancial do “tudo”!
Heráclito de Éfeso chamava à atenção para o devir... Eis o devir! Movimento ad aeternun enquanto a pulsão de vida não é estancada no êxito pleno de sua coroação pela pulsão de morte.
Não só o Witz é palavra espirituosa. Toda a palavra o é na medida em que cada uma carrega em si mesma seu quantum de afeto, de recado, de significância; e que ao se deslocar para uma outra palavra, e outra, e mais outra vai conferindo sentido.
Toda a palavra é espirituosa pois que na decodificação da pulsão écom aquela escolhida que se faz Fala.
Me faz lembrar do personagem Cebolinha de Maurício de Souza...
O Cebolinha come acelga....
A sulda e a mulda!
Fazer do non-sense, sense é mesmo dar/encontrar o “new” na jornada do jogo: Da aposta para a conquista!
Paulicéia, 08/12/2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ferreira, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1976.
Kojéve, Alexandre. Introdução à leitura de Hegel. Trad. Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 2002.
Paula, Karin de. Do Espírito da Coisa: Um Cálculo de Graça Sobre o percurso de uma psicanálise. São Paulo: Escuta, 2008.
Roudinesco, E.; Plon, M. (1998). Dicionário de Psicanálise. Trad. De Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
Slemenson, Karin de Paula. $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2001.
Torrinha, Francisco (1939). Dicionário Português Latino. Porto: Domingos Barreira, 1939.
Octávio Marcondes Machado Marchi, Filósofo e Psicanalista.
psicanalise_marcondes@hotmail.com
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
sábado, 16 de agosto de 2008
Carta a quem simplesmente busca...
Carta a quem simplesmente busca
Vejo que mais uma vez enredastes nas velhas tramas...
Parece que sua inteligência “desperta” muita inveja no “outro”, não te parece?
Agora, a despeito do que dizem ou podem dizer, vejo-te em confusões, sob grande cansaço e sem perspectivas.
O que aconteceu com você? Sua fórmula não funcionou?
Não precisa esconder nada e nem ficar sob as águas dos segredos-próprios que dizem respeito única e exclusivamente a você. Compreende?
Não haja como se estivesse na iminência do trágico cair sobre sua cabeça. O trágico está diretamente ligado à ansiedade funesta do que poderão dizer sobre você...
Que bobagem!
Sem saberem nada já tramam...
O trágico é você mesmo quem cria!
Quando decidiu fazer algo em sua vida, o fizeste sob qual pretexto? O que te mobilizou?
Quando saístes da casa interior, (entenda-se com isso sair de qualquer situação insuportável), o que buscava?
Responde que buscava algo.
Sabe o que é esse algo?
A velha palavra mágica: posicionamento.
Ficar cara a cara com os sustos que a vida te imputou, foi a morte para ti.
Diz não ter medo da morte!
Acaso tens medo da vida? Creio que sim!
Bom, ter medo da vida ou mesmo da morte faz-nos reavaliar muitas coisas e dentre elas se devemos permanecer ou não nesta busca desenfreada e sem objetivos.
Uma ação inócua só para dizermos a nós mesmos que “estamos fazendo alguma coisa por nós”. Estamos enganando a quem? Hã?
Façamos um retorno às origens, às nossas origens...
Onde estávamos. Onde estamos?
Houve evolução? E se houve, ela estagnou por qual motivo? Pela falta deste?
Você, melhor do que ninguém, pode falar por si.
Uma forte crença de que não era bom o bastante?
Sente-se indefeso, desesperançado?
Não confia no processo da vida... Por pura falta de confiança em si...
Quer rolar morro abaixo?
Claro, pois é isto que acontece com a grande maioria que se pune por qualquer coisa.
A vida é feita de apostas que trazem em seu bojo implicitamente os retornos destas apostas.
Sentir-se desesperado e cansado da vida são resultados de ferimentos emocionais que não recebem permissão para cicatrizar.
Permita-se então!!!
Procure absorver idéias que brotam de seu ser divino e entenda que a vida é feita de momentos, instantes. Sendo assim, não precisa ficar “colado” a um determinado momento estático; já que a vida é dinâmica.
É digno de viver a vida intensamente, não sabe disso?
Bom, então lhe digo agora.
Pare de se lamentar, de se colocar como coitado e vítima... isto é feio, deselegante; isto afasta as pessoas.
Para você, tudo vem antes: a doença, a falta de dinheiro, a agressividade, a defesa que engessa...
Não tem vergonha disso?
Posicione-se e assuma sua vida.
Não há julgamento. Há responsabilidade, sinceridade, honestidade com você mesmo.
Pense nisso,
Octávio Marcondes Machado Marchi, graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos – CEP (http://www.centropsicanalise.com.br/), atuando na Rede de Atendimento (Clínica do CEP), Membro da Equipe do Periódico ”#Falo” e com consultórios em São Paulo.
Contato: psicanálise_marcondes@hotmail.com
sexta-feira, 21 de março de 2008
Angústia, prenúncio de algo...
Alguns pacientes iniciam a sessão assim:
Bom, não é tão simples assim não. Mas, também não é impossível fazer frente àquilo que assusta por um momento.
- Hoje eu estou angustiado...
- Esta angústia tem a ver...
- O que o senhor pode fazer por mim? (Eu? Fazer por ele!)
Pois é, uma tentativa de imprimir neste artigo algo que, antes, precisa ser pensado, para depois, talvez, ser escrito.
Afinal, como identificar "aquela coisa" que se sente...que dói no peito?
Há, primeiro, de ser nomeada para poder ser compreendida.
Em geral, diversas situações ou acontecimentos podem gerar angústia; por exemplo, mudanças que percebemos a vida nos impor.
Qual o melhor momento para mudar?
Como se efetiva essa mudança?
Como lida-se com o medo que se antepõem à ela?
Bom, não é tão simples assim não. Mas, também não é impossível fazer frente àquilo que assusta por um momento.
Entrar em contato com o que incomoda é o primeiro passo; e como tal, o mais difícil.
Poder avaliar a amplitude deste "incômodo" e tentar rastrear sua origem é uma tarefa um tanto rica.
O que é que "não" sabemos?
Toda a mudança requer uma atitude, uma ação.
Entre aquilo que se tem e aquilo que se deseja é importante que haja a construção de uma ponte.
Ponte esta que possibilitará o processo migratório das plagas de onde estamos para o paraíso onde se quer estar.
No entanto, cada pedaço dessa ponte será colocado apenas por quem anseia à mudança; cada pedaço é constituído de material próprio...visceral, é singular, é de cada um.
É com os elementos constitutivos da subjetividade que será possível dar lume à esta travessia.
O processo, parece, bem interessante e engenhoso, pois convoca toda uma mobilização para o desejado. E haja investimento, haja aposta, haja coragem!
Talvez a angústia resida mais na ansiedade gerada sobre o "como será?" do que no desenrolar dos fatos, na "atuação" bemfazeja da edificação da ponte.
Parece ser possível constatar depois, com um certo prazer, de que as coisas não tinham o tamanho que pareciam ter. Minha experiência de consultório aponta para isso em quase oitenta por cento dos casos.
Dar a largada para a construção da ponte possibilita talvez perceber o quanto de resistência existe...e olha que há muita resistência em entrar em contato com o que carece de ser mudado... É possível perceber também se esta resistência não é reincidente...sabe, lá, nos tempos de outrora... Aí ela aparece "amadurecida" e muito mais densa, com outra roupagem, mas sempre esteve lá.
O importante é não recuar, ou ainda, não se deixar ser "re-capturado" pelo medo que paraliza...engessa...
Que alívio constatar, depois, o coroamento da migração; que prazer desfrutar da conquista saborosa e imaginar que o "auto exame de consciência" (que a vida nos convoca fazer) valeu à pena.
Isto fortifica e nos predispõe a novas apostas, a novos desafios.
Medo saudável chama-se desafio...
Medo na medida certa é prudência!
Octávio Marcondes Machado Marchi.
Graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos – CEP (http://www.centropsicanalise.com.br/), atuando na Rede de Atendimento (Clínica do CEP), Membro da Equipe do Periódico ”#Falo” e com consultórios em São Paulo.
sábado, 15 de março de 2008
A VIDA NÃO COMEÇA “SÓ” AOS 40
A VIDA NÃO COMEÇA “SÓ” AOS 40
ELA COMEÇA NO MOMENTO EM QUE NOS AUTORIZAMOS A VIVÊ-LA
INTENSAMENTE A CADA MINUTO.
ELA COMEÇA NO MOMENTO EM QUE NOS AUTORIZAMOS A VIVÊ-LA
INTENSAMENTE A CADA MINUTO.
Pois é, fazer quarenta anos...
E lá venho eu novamente com os meus escritos...
Falarei por mim, de minhas experiências, de minhas conquistas, mas, em se tratando de vida, talvez algumas coisas nos sejam muito comuns.
Se eu não estiver dizendo nenhuma novidade a você, isso será um excelente indício.
Até aqui, nesta primeira etapa de vida foi um contínuo descobrir...olhar para dentro e poder constatar o que eu precisaria preencher, pois que ainda estava vazio de algo meu mesmo.
Aos poucos fui conseguindo substituir algo que não era meu por coisas que continham em si mesmas as minhas marcas, os meus estilos. E aí fui ganhando expressão própria.
Fui me reconhecendo como sujeito pensante. Fui me autorizando à vida e perdendo as cargas de culpa e medo que, me parece, acompanha a todos nós. Problema sócio-cultural. Herança judaico-cristã...
Em um dado momento você se questiona se aquilo tudo é seu mesmo ou se você apenas está reproduzindo algo.
Qualquer coisa valida o não entrar em contato consigo. E este é o grande convite reformador que a própria vida oferece... Ela pega na sua mão e diz: - Vamos?
Você percebe o quanto é inócuo continuar por um caminho utópico e acaba cedendo ao doce e sedutor convite da vida.
Claro, dá-se um desconto. Enquanto somos ignorantes de nós mesmos vá lá que não caminhemos... Mas, à medida em que passamos a entrar em contato de que algo precisa ser feito e continuar no velho mote de não fazer nada...aí a angústia triplica
A vida não começa “apenas” aos quarenta anos, não!
Ela começa no momento em que nos autorizamos a vivê-la intensamente a cada minuto.
E aí, nunca mais (para nossa sorte) deixaremos de nos levar em conta...
Lição aprendida, jamais esquecida.
Para quem se permite, a vida oferece um LEQUE de opções e apostas.
E já que nossa mente tem a capacidade de simbolizar...escolhi este singelo objeto para que você, a cada vez que o vê-lo, se pergunte o que deve estar fazendo por você naquele momento para ser melhor... Qual é a minha aposta? O que quero pra mim? E por aí vai...
Hoje sou mais feliz que ontem. O processo continua...sempre...sempre
Não há “cura” no processo de nos tornarmos melhores...que bom!
Obrigado pela oportunidade que você me oferece de poder compartilhar.
Agite o "leque" que a vida lhe oferece e se permita ao frescor de novos desafios.
sábado, 16 de fevereiro de 2008

Do Ideal Adulto ao Adulto Ideal
Migração possível?
Migração possível?
CARO LEITOR, QUE BOM VOCÊ ABRIU ESTE BLOG: meu convite ao raciocínio desta vez diz respeito à separação. Não falo tão somente da separação a que estamos acostumadíssimos ouvir: separação de casais, não.
Hoje, trata-se de uma separação mais densa, mais significativa. Que talvez, bem executada, até possibilite evitar as tais separações matrimoniais no futuro.
É sabido do quanto um bebê recém nascido carece dos cuidados maternos, sobretudo nos primeiros meses. Neste momento, o bebê não sabe diferenciar a si próprio de sua mãe. Para ele é tudo uma coisa só. Como se a mãe fosse uma extensão sua.
Este momento, chamado de fusão, tanto mãe como bebê, têm suas condições de fusionar. Se a mãe, por exemplo, estiver impedida (por uma questão de saúde, depressão, desinvestimento em relação ao bebê), aí então teremos alguns efeitos “colaterais” no bebê e que podem ocasionar, por exemplo, o comprometimento de sua aquisição de autonomia para a vida.
No processo dito normal, aos poucos o bebê vai percebendo que ele e a mãe não são uma coisa só, e mais, percebe também que há outros para além desta relação dual. É um
perceber-se Sujeito diante do Objeto; claro, uma concepção muito primária ainda, pois crianças , sobretudo bebês, não têm capacidade de elaboração rebuscada.
A entrada do “intruso” (terceiro) é muito produtiva. Este terceiro pode ser o pai ou qualquer outro que não ele; isto é, todo aquele que interfere na fusão estabelecida na relação dual.
Acontece que esta fusão (necessária) precisa ser desfusionada (necessariamente).
A primeira frustração de uma série... a entrada do terceiro na relação dual, o desmame, o engatinhar, a aquisição da linguagem...e assim, a medida em que a criança vai se descolando da mãe, vai tomando posse de si; sua autonomia e sua personalidade vão se configurando de forma mais aproximada do ideal e do saudável.
Filhos não são “objetos” dos pais, nem estes detém a “posse” daqueles.
Acontece, porém, de que quando não se observa este tipo de descolamento, há a tendência dos pais acharem ser os “donos” de seus filhos de maneira perene, e estes por sua vez, não saberem caminhar na vida (por medo, por insegurança, por acomodação – tem quem faça por eles – por não acreditarem em si mesmos, por não conseguirem enxergar seus próprios valores, e por aí vai). O pior, estes “valores” também crescem e se cristalizam.
Perceptível é, com o perdão da palavra, a falta de respeito de alguns pais com relação a seus filhos. Cada criança é um ser com inúmeras potencialidades, muitas vezes despercebidas, desperdiçadas ou não estimuladas por seus pais. Cada criança é singular, um ser único.
Ter autoridade sobre os filhos não é emburrecê-los, invalidá-los, anulá-los, castrá-los em demasia, de modo que se tornem pequenos-grandes (hoje-futuro) idiotas.
Ter autoridade também não é subjugá-los e humilhá-los de modo a “aprimorar” sua (dos pais) própria auto-afirmação... Na verdade, um simulacro de auto-afirmação de quem não a possui verdadeiramente.
Este convite ao raciocínio não é uma apologia à que a criança faça o “que quiser”, não!
Criança, por inexperiência, não se garante em seus atos. Requer cuidados, sabemos disso.
Mas como toda educação e instrução partem dos mais velhos... Bom, deduz-se teoricamente, que deve ser dos mais velhos de quem deve partir a boa ação do respeito e do oferecimento do rico processo de autonomia através dos estímulos aos seus talentos; pois elas os têm... Claro que tem!
Nem mais, nem menos. Nem prendê-las, nem soltá-las de todo. Dosar é o melhor remédio. Educar é saber impor alguns limites também.
Os adultos também devem aprender. E uma das coisas que está à mercê de ser aprendida é deixar que os filhos possam mostrar seus valores; mostrar que de alguma forma souberam aprender e apreender o que lhes foi ensinado. Isto sim é uma prova de amor, confiança e grande aposta neste futuro adulto.
Parece-me assim: antes, na fase de formação, um ideal de adulto, depois um adulto ideal.
Minhas palavras não são de julgamento; São sim, um convite para melhorias.
Ninguém nasce com a idade que tem... Aprendemos sempre!
Até a próxima.
Octávio Marcondes Machado Marchi, graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos – CEP (http://www.centropsicanalise.com.br/), atuando na Rede de Atendimento (Clínica do CEP), Membro da Equipe do Periódico ”#Falo” e com consultórios em São Paulo.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2008
IDENTIDADE NO EXÍLIO
IDENTIDADE NO EXÍLIO
Em um mundo tão virtualizado, onde nos perdemos por horas a fio diante da tela de um computador para, assim, interagir com o exterior...fico a pensar como se dá e no que repercute a perda da capacidade de vivência no real.
É de surpreender as possibilidades que temos de assumir personalidades, sexos, silhuetas, e tudo o mais que a prodigiosa mente possa permitir criar, com um detalhe que faz toda a diferença: a proteção de uma velada identidade por trás da tela de um computador.
Tornamo-nos os seres mais espetaculares do mundo (mundo egóico, claro!). Beleza, cultura, personalidade são, no mínimo, os pontos altos desta sustentada imagem apresentada à guisa de brincadeira; a dificuldade aparece quando temos que ligar a câmera...aí, vira um problema.
Imagino a quantidade de câmeras que “quebram repentinamente” e quantas conexões devem “cair” ao primeiro convite de um papo virtual com a cam. É o virtual atravessado pelo real.
Sob a “secreta” persona, vai-se construindo inúmeras relações, vínculos e afetos, que, a meu entender, satisfazem os egos mais exigentes e criativos de um lado, e os perigosos perversos de outro.
Outro dia, conversando com Gabriela, uma jovem de 15 anos, questionei de que modo eles, os jovens, encaram este tipo de atitude, já que, me parecem, são tão espontâneos e naturais. Não foi minha surpresa quando ela respondeu-me que isso é uma prática, não generalizada, mas super comum hoje em dia, ao que eles dão o nome de FAKE...
Fake????
Como assim, fake?
Pois é, nada mais nada menos do que aquilo que estamos acostumados e já conhecemos muito bem. Por trás da tela, assumo a personalidade de um ídolo e passo a me apresentar para o mundo, como se fosse o próprio. Isso, me parece, requer uma pesquisa muito acurada para saber, literalmente TUDO sobre este “eleito”. Uma mentira verdadeira: Eu, fake do artista “x”, converso com você, fake do artista “y”.
Que tal então saber TUDO sobre eu mesmo e me conhecer melhor? Na real?
Percebi que a relação com o real destes poucos jovens, já que não devo generalizar, está em assumirem que fazem este tipo de jogo, se posso assim dizer, diante do computador, entre eles. Porque, no mais, tudo está pré-concebido e as regras pré-combinadas. È assim que funciona. Mundo da fantasia mesmo.
No sentido mais suave, ou no sentido mais radical...o que é, para nós mesmos, não sermos nós diante do outro, via tela do micro. Porque decido não poder dizer quem sou? Apresentar-me como um sujeito distinto de mim mesmo?
Afinal, eu sei que não sou aquilo que quero parecer ser diante (sem câmera) do outro.
Será que, o que trago comigo, que é meu: minha maneira de ser, minha educação, minha cultura, enfim, meus valores, não servem como elementos constitutivos de novas relações com os quais posso me apresentar e me relacionar com o mundo?
Acredito que, de alguma forma, isto provoque um silêncio interno e uma perda de contato com o real. Nesta fantasia, enquanto viva – no momento em que acontece – estou suprido de estímulos. Quando venho para o real – quando desligo o micro – talvez eu não consiga, ou até mesmo não saiba muito mais interagir com o outro, pois, assim com o micro, desligo também a minha parcela real. Onde fica este exílio ? O que se busca lá?
Texto publicado no Jornal Planeta Águas - Águas de São Pedro em 19/01/2008
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
PENSAR "O PENSAR"
Pensar, hoje, o que significa?
E pensar o hoje?
O que é pensar, o que é o pensar? Há diferença?
Parece que a sutil diferença toma lugar comum, e faz-nos tomar um pelo outro.
Talvez pensar "O pensar" seja algo que possibilite, já, um início de aprofundamento, independentemente daquilo que se pensa. Mais forma do que conteúdo, que, a priori, já é um
bom começo.
Minha intenção hoje é pró-vocar e não conceituar. Na melhor acepção da palavra, viabilizar um chamamento para a questão. Problematizá-la.
As questões que nos são caras ou as que nos preocupam (sobretudo estas) como são entendidas e tratadas por nós?
Intrigante é perceber o "quantum" de investimento psíquico existe nos vícios de pensamento e, com isso, as pessoas não se permitem (nem sabem que podem fazê-lo), à aproximação de sua verdadeira e legítima forma de pensar, gerando angústia e frustração.
Assumem, administram, propagam e repetem, numa recôndita ignorância, aquilo que não é próprio de si. Quantos projetos de vida são forjados de modo a sustentar este engodo!
Como diz o poeta, é "passar pela vida e não viver".
Será mais fácil manter o velho mote, sustentando um comodismo, do que legitimar uma atitude própria, assumindo com isso as apostas e os riscos?
Corre-se o risco, de que as coisas dêem certo, não? Riscos que se tornam conquistas.
Penso na dimensão deste questionamento. Penso na formação intelectual das crianças, na implicação dos adolescentes com a sua própria vida e na possibilidade de um adulto poder e querer mudar. Isto é quebrar o processo vicioso... Este mal herdado.
Onde se perdeu, ao longo do tempo a ascese do diálogo, do questionamento, da reflexão que está no bojo do processo de educar?
Segundo a Psicanálise, a capacidade de questionar tem seu lado saudável; é algo que nos mobiliza. Mas, sermos maquininhas de fazer perguntas a esmo, não.
Tudo deve ter um sentido. O pensar, o falar.
A velha frase do "Penso, logo existo", deve nos lembrar deve nos lembrar que temos algo a fazer para além do existir. Não só pensar fora, mas dentro, e, sobretudo, dar sentido a essa existência.
Talvez, a dificuldade seja o aprender a pensar.
Há de se dizer, que muitas das coisas que passamos tempos a criticar no outro, tem mais a ver como nós entendemos este outro, do que ele ser/ter verdadeiramente aquilo que lhes apontamos como defeito. Antes, me incomoda no outro o que provavelmente reconheço em mim mesmo nele, e não suporto.
Quando nos permitimos reconhecer como foi que entendemos os processos de nossa vida (relações, afetos, sentimentos) aí sim, estamos para o epicentro de um sem número de possibilidades de solução das questões que nos angustiam.
Parece-me poder afirmar que, quando cada um reflete sobre seus próriios atos, se percebe e se permite à mudança, desvanece a avaliação crítica do erro em relação ao outro; sendo a recíproca verdadeira, já que este outro também refletindo, se percebe e se permite à mudança.
Questões pessoais, familiares, conjugais, políticas, religiosas... enfim, quantos benefícios não surgiriam por um simples saber pensar.
Se há segredo, este está em saber que existimos e saber que há possibilidades de sermos melhores a cada dia.
Percebem onde nos leva e o que nos possibilita pensar?
Pois é...então... veja lá pra onde isso te leva!
Boa sorte!
Octávio Marcondes Machado Marchi, graduado em Filosofia pela Universidade São Judas Tadeu. Psicanalista pelo Centro de Estudos Psicanalíticos - CEP, atuando na Rede de Atendimento e Membro da Equipe do periódico "#Falo" desde 2006. Consultórios na Pompéia e Liberdade.
Texto publicado no Jornal Planeta Águas (Águas de São Pedro) em 29.12.2007
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